Guilherme

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O horror

08/02/2009 01:08

Vi o especial "Brasil Olímpico: Uma candidatura passada a limpo", da ESPN Brasil. Um espetáculo de jornalismo. Uma pena que, como todos os outros espetáculos de jornalismo, este veio carregado de histórias revoltantes, o que ofusca todo o brilho da reportagem. Mas tudo bem, jornalismo de ponta é assim mesmo, não pode aparecer mais do que o seu tema.

Durante duas horas, assisti a um desfile de escândalos com o dinheiro público, promessas não-cumpridas, cidadãos resignados, atletas esquecidos e, de um modo geral, provas e mais provas de que a simples ideia de se trazer os Jogos Olímpicos para um país que trata o esporte da maneira como o Brasil trata é uma maluquice das mais desvairadas.

Não adianta nem dizer que as Olimpíadas do Rio-2016 vão ajudar a desenvolver o esporte no país. Além de se tratar de compromisso falso é uma afirmação mentirosa. O desenvolvimento e a organização do esporte brasileiro não podem começar de cima, do ápice da performance desportiva. O trabalho tem que se iniciar sem ideais competitivos, no esporte como projeto social, voltado para o lazer, a educação e a saúde. Daí para a formação de base, e só então partir para o nível competitivo e de alto rendimento. Não podemos colocar a carroça na frente dos bois, principalmente quando a carroça é conduzida por quem já conhecemos.

Sim, a situação do esporte no Brasil é o horror em sua forma mais tenebrosa. Vários obstáculos se colocam entre os objetivos que pretendemos alcançar para sermos, de fato, candidatos a sede de Olimpíadas. Despreparo, falta de visão, desorganização, ineficiência, incompetência, falta de bom senso e, em muitos casos, má-fé pura e simples. Corrupção, ganância, negociatas, politicagem, o diabo a quatro.

Liderados por um peleguista egocêntrico e não muito afeito a prestar contas e por um ministro assinador de cheques totalmente desconhecedor da área que toca, estamos condenados a seguir o desenrolar de um projeto que arrasta atrás de si vagões e mais vagões de dinheiro que faz falta em outros lugares. Até outubro, quando será anunciada a casa dos Jogos Olímpicos de 2016, financiaremos, com um total de R$ 100 milhões, uma candidatura destinada ao fracasso, e que será seguida por outras, não há dúvidas. Já sofremos com o Pan de 2007, estamos começando a sentir as dores da Copa de 2014. Teremos mais esse fardo para carregar nos bolsos e nas consciências?

Não se trata de ser contra a realização de Olimpíadas no Brasil. Eu, pessoalmente, não sou. Mas quero que seja feito corretamente, e só quando não houver mais nada em que investir o dinheiro destinado ao esporte. Ora, mas a China não tem problemas? A Inglaterra? A Grécia, a Austrália? Provavelmente. Não sei. Moro no Brasil e sei do Brasil. E o que sei é que há prioridades a serem cumpridas e satisfações a serem dadas antes de pensarmos em festa e fogos de artifício no Maracanã.

A esperança que fica é que a atitude da ESPN Brasil ecoe. Que a CPMI proposta pelos deputados Silvio Torres e Miro Teixeira aconteça e traga às claras todos os detalhes ainda ocultos da gastança desmedida dos recursos da União. Que pessoas competentes e conhecedoras, e não amigos dos poderosos, sejam colocadas para administrar o esporte. Que o atleta seja valorizado, que o potencial atleta seja valorizado e que o cidadão comum que só quer uma quadra poliesportiva para brincar no final de semana seja valorizado. Depois disso, aí sim, apóio incondicionalmente uma Olimpíada no Brasil.

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De anões e gigantes

03/02/2009 19:00

O caso Amauri na seleção tem muitos matizes. Não se resume apenas a convocar ou não o cara, a ele aceitar ou não. É o caso de se desenvolver as idéias. É o que farei abaixo.

Primeiramente, o fato de Dunga ter “cedido”. Não é bem assim. Dunga, como se sabe, só cede a uma pressão, e não é da torcida nem da imprensa. A convocação-tampão de Amauri, porém, parece ter tido mais o objetivo de esfregar qualquer coisa na nossa cara. Algo do tipo “Vocês querem Amauri? Pois tomem Amauri! E não reclamem!” É muito pouco provável que o treinador (e a CBF) tenham tão rapidamente “perdoado” o jogador por ter dito que não precisa de nenhuma seleção. E, de fato, não precisa.

Amauri te despreza

Amauri saiu do futebol amador de Santa Catarina para as divisões inferiores da Itália, onde passou a galgar degraus até chegar ao ataque titular da Vecchia Signora. Sozinho. Fazendo gols. Sem publicidade, sem ser plantado em convocações (Afonso, Bobô e Fernando?), sem atuações espertinhas de empresários/relações-públicas. O que é muito louvável e raro no mundo do futebol de hoje. A chegada à seleção, qualquer que seja ela, seria uma recompensa por seu talento e sucesso, como deve ser sempre. E não trampolim, como é o caso em muitas vezes (Afonso, Bobô e Fernando?).

O problema é que, para Amauri, ir para a seleção brasileira seria mais uma punição do que um prêmio, porque ele nunca será aproveitado com a camisa canarinho. Não é mais um garoto (tem 28 anos), então não representa uma renovação propriamente dita, que é o que a seleção precisa. Sim, pode ser aproveitado a curto prazo, na Copa, por exemplo. Mas aí entra o fator Dunga.

"Não contavam com minha astúcia!"

Dunga, já me conformei, comandará o Brasil na África do Sul. Não dá sinais de desgaste entre os que ele realmente quer (e consegue) agradar. Assim sendo, é perfeitamente lógico concluir que o time que entrará em campo na estreia da Copa do Mundo terá Júlio César, Maicon, Juan, Lúcio, (lateral-esquerdo indefinido, talvez Marcelo); Gilberto Silva, Josué, Elano/Ronaldinho, Kaká; Robinho, Luís Fabiano. A menos que algum desses se machuque, Dunga manterá sua base. Não há, portanto, lugar para Amauri no time titular enquanto no banco estiver o ex-capitão.

Isso se Amauri chegar na Copa, pois Dunga tem um histórico de descartar convocados sem vê-los jogar. Ele deve pensar que um par de partidas sentadinho ao seu lado bastam para saciar a vontade de qualquer boleiro. Quando consideramos, então, que Adriano, Alexandre Pato e Jô são as alternativas preferidas do treinador para o ataque, podemos ver que o futuro da Amauri na seleção não é muito brilhante.

Na Itália saberiam dar a ele o valor e as chances que ele merece. Não só porque lá ele é adorado, mas também porque a Azzurra não tem titulares definidos para o setor ofensivo, até porque os escolhidos por Marcello Lippi costumam não repetir no time nacional as atuações que têm em seus clubes. As vagas estão completamente abertas, ao contrário do Brasil, onde são petrificadas.

Dunga, com os convocados a seus pés

Mas não é preciso nem chegar tão longe para ver que Amauri e a seleção brasileira não estão exatamente indo ao encontro um do outro. Basta ver as circunstâncias em que ele foi chamado, como eu disse acima. Sem critério, sem pensar no assunto, dias depois de Dunga dar mil motivos para não chamá-lo. Em suma, de birra do técnico com jornalistas especializados e torcedores. Como um garotinho de dez anos que atira raivosamente os cobertores sobre o colchão quando a mãe manda-o arrumar a cama, só para dizer que arrumou.

A falta de critério é clara quando analisamos o grupo selecionado para o amistoso. Dunga já havia chamado dois jogadores com as mesmas características de Amauri: Adriano e Júlio Baptista. Os três são grandes, bons cabeceadores e têm chute potente e certeiro. Se Dunga tivesse realmente se preocupado com o substituto de Luís Fabiano, teria escolhido alguém com o mesmo estilo do avante do Sevilla. Em vez disso, preferiu jogar tudo para o alto e fazer mais uma de suas rabugices.

"Qual vai ser o meu chilique de hoje?"

Mas claro, nada disso importa mais, já que a Juventus bateu o pé e disse que seu jogador fica. Os caminhos do anão Dunga e do gigante Amauri não se cruzarão desta vez, e o melhor que cada um tem a fazer é seguir na sua estrada. A do gigante parece iluminada e tranquila. A do anão, indefinida e tortuosa. E nós vamos com ele, de reboque, melancolicamente impotentes, assistindo ao gigante dar seus passos largos.

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O baile todo

20/01/2009 20:17

Chegou ao fim a InterLiga, torneio mexicano que define os últimos classificados da terra do Chaves para a Libertadores da América e enfim fecha a turma da copa. É hora de finalmente rebatizar os irritantes "México 2" e "México 3" com os nomes dos clubes que conquistaram as últimas vagas que faltavam ser preenchidas na maior competição continental deste lado do Meridiano de Greenwich (eu sempre quis dizer isso).


Sou só eu que acho a palavra "rumbo" muito engraçada?

Como é de praxe, a InterLiga 2009 reuniu os oito melhores times da temporada mexicana que não haviam garantido lugares nem na Libertadores nem na Copa dos Campeões da CONCACAF. Foram eles: Toluca, Tecos UAG, Morelia e Pachuca (Grupo A) e Tigres UANL, Chivas Guadalajara, Atlas e América (Grupo B). As equipes jogaram entre si dentro dos grupos e as duas melhores passaram às finais, onde o primeiro de cada chave enfrentou o segundo da outra. Os vencedores das disputas baterão ponto ano que vem na elite latino-americana-futebolística.

Quem se deu melhor na primeira rodada foi o Pachuca. Os Tuzos aplicaram categóricos 4-0 no Tecos UAG, em jogo que marcou a estreia (com gol) do atacante-revelação paraguaio Edgar Benítez. Com o empate entre Toluca e Morelia, o Pachuca assumiu a liderança. Já no Grupo B, igualdades para todos os lados. Tigres e Atlas ficaram no oxo (zero a zero, para aqueles não familiarizados com a expressão). Chivas e América fizeram um Súper Clásico disputado e pararam no 1-1.

A segunda rodada viu o Pachuca selar classificação para a fase seguinte com uma vitória simples sobre o Toluca, gol de Benítez. O Tecos passou pelo Morelia, graças a atuação de gala do arqueiro Corona e de um tento contestado no segundo tempo, quando o zagueiro Adrián Cortés deu sequência a um lance com um adversário caído no campo. Enquanto isso, os dois maiores times do país conquistavam resultados idênticos na outra chave: o Chivas passou pelo Atlas, no Clásico Tapatío, por 3-1 e o América repetiu o placar, de virada, sobre o Tigres, com gol do nosso gorduchinho estrangeiro favorito.


Arriba! Ou melhor: Barriga!

Na jornada decisiva, porém, o time de Cabañas vacilou. Uma traulitada de 4-1 do Atlas fez os Águilas perderem a vaga no saldo de gols para o adversário e ficarem fora da Libertadores pela primeira vez desde 2006. Para unir o inútil ao desagradável, o rival Chivas venceu o Tigres e levou o primeiro lugar do grupo. Do outro lado, o Pachuca relaxou e tomou 3-0 do Morelia, o que classificou os Monarcas para a segunda fase. O Toluca bem que tentou, mas fez apenas 2 no Tecos e ficou em terceiro no famigerado saldo.

As duas finais foram decididas nas cobranças de pênaltis. Chivas e Morelia empataram em 1-1 no tempo normal e, nos chutes da marca de cal, melhor para o time com nome de uísque: 4-2. O brasileiro Wilson Tiago e o chileno Droguett desperdiçaram. Porém, as emoções ficaram por conta da peleja entre Pachuca e Atlas. O Pachuca abriu 3-0 ainda no primeiro tempo, mas permitiu o crescimento dos Rojineros na segunda etapa, com direito a gol contra e empate no apagar das luzes. Nas penalidades, os dois times continuaram iguais nos cinco chutes regulamentares (3-3 também) e mantiveram a alternância até que Achucarro, que já havia errado antes, perdeu a décima cobrança do Atlas e selou o fim da agonia. No total, 10-9 para o Pachuca, e vaga na Pré-Libertadores, por ter sido o classificado com pior retrospecto na primeira fase da InterLiga.


"O gol parece deste tamaninho quando a gente vai chutar!"

O Chivas entra no Grupo 6 e vai se juntar a Lanús (Argentina), Everton (Chile) e Caracas (Venezuela). Relativamente uma barbada para a equipe de Guadalajara. Já o Pachuca precisa superar o Universidad de Chile se quiser fazer companhia a Grêmio, Aurora (Bolívia) e Boyacá Chicó (Colômbia) no mole Grupo 7, que tem o Imortal Tricolor desde já como franco favorito.

Que role a pelota nos capins do Novo Mundo!

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Chez Football

18/01/2009 17:29

Retornei hoje de umas feriazinhas de três dias na Terra da Garoa, onde estive para reverenciar, junto com outras 44.999 pessoas, sir Elton John e seus diamantes musicais em um show inigualável. Como não poderia deixar de ser, visitei alguns pontos de interesse na cidade. Um deles, na sexta-feira, foi o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, mais conhecido como Pacaembu. Belíssimo, ouso dizer que é o mais bonito estádio de futebol em que já entrei. Ah, mas não fui lá só para ver os trabalhadores dando a caprichada final no gramado que receberia Corinthians e Estudiantes no dia seguinte. Lá fica localizado o Museu do Futebol. O relato que segue é minha experiência pessoal da visita, e se você já conhece o lugar, por favor, furte-se de minhas palavras, pois você sabe que elas não fazem jus ao primor do templo construído nas entranhas da arena que leva o nome do Marechal da Vitória.

Logo de cara, uma lojinha. Teoricamente ela é o ponto final do passeio, mas viva a liberdade. Entrei. Não é só uma loja de futebol, é um santuário. Para ficar no exemplo, encontrei, folheando uma das gôndolas de camisas, um espécime do uniforme de mil-novecentos-e-guaraná-de-rolha do glorioso Partizan Belgrado. Babei um pouco sobre alguns livros e segui adiante, para o museu propriamente dito. Pagando a bagatela de três reais (meia-entrada), parti para um prolongado orgasmo audiovisual.

Quem me recebeu foi ninguém menos do que um trilíngue Pelé, esbanjando simpatia em português, inglês e espanhol. Não, não encontrei o Rei, mas fui recepcionado por uma imagem virtual em tamanho real dele, que me desejou as boas-vindas. Antes, uma ante-sala com paredes recobertas de cima a baixo por uma infindável memorabilia de figurinhas, fotos, escudos, flâmulas e outros itens de colecionador. É de despertar a cleptomania no mais puro cristão. Resisti aos impulsos e fui em frente.

São várias salas de exposição ao longo do percurso do museu, mas não me preocupei em decorar o nome delas. A primeira exibe imagens holográficas, que se alternam, de 25 grandes craques do futebol brasileiro, os "Anjos Barrocos". A saber: Bebeto, Carlos Alberto Torres, Didi, Djalma Santos, Falcão, Garrincha, Gérson, Gilmar Neves, Jairzinho, Julinho Botelho, Nilton Santos, Pelé, Rivaldo, Rivellino, Roberto Carlos, Romário, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Sócrates, Taffarel, Tostão, Vavá, Zagallo, Zico e Zizinho. Deleitei-me com as projeções (perfeitas), li a breve história de cada um, lamentei a ausência de Domingos da Guia e passei à próxima sala, onde tive meu primeiro momento de sublimação.

Várias cabines permitiam ao visitante recordar gols históricos da trajetória do futebol. Havia as televisões, com comentários de grandes nomes ligados (ou não) ao esporte, e as cabines de rádio, por assim dizer. Escolhi uma destas últimas. Sentei-me em um banquinho e notei dois alto-falantes à altura dos meus ouvidos. À minha frente vi uma espécie de dial de rádio ampliado, em que eu podia mover um ponteiro e escolher uma narração histórica. Curioso, arrastei o equipamento na direção das palavras "Jorge Cury - 1950". Sim, era a final da Copa. Sim, era o gol de Ghiggia. Admito que nunca havia compreendido o que foi aquele gol até ouvir a voz desesperada e incrédula de Cury, locutor das rádios Golobo, Nacional e Tupi, entrando pelo meu cérebro e calando fundo em cada nervo da minha pele. Tive que repetir a dose. Monopolizei a cabine por uns bons minutos, tentando visualizar o Maracanã e cada um de seus quase duzentos mil rostos, petrificados na perplexidade eterna. Tentei ser Friaça e Zizinho, Bauer e Ademir, Juvenal e Jair, tentei ser Barbosa, o Judas imerecido. Não conseguindo, engoli o trauma retroativo, a tristeza meio século atrasada, e fui em frente.

Na sala seguinte, mal recuperado de meu Maracanazo particular, percebi que alguma coisa grande estava acontecendo. O cheiro de terra molhada, o ar abafado, as batidas ritmadas. Então, uma explosão de sons e luz. Percebi primeiro o lugar em que estava: o subterrâneo! Vigas em volta, solo escavado. Sobre a minha cabeça, degraus invertidos: as arquibancadas! Só aí fui dar atenção às imagens que dançavam, acompanhadas de gritos, cantos, refrões, cores... Torcidas! A Sala da Exaltação (dessa lembro o nome) é uma imersão no mundo do amor à camisa, da paixão incondicional. Seguidores de Náutico, Goiás, América de Natal, Flamengo, Santos, Atlético Mineiro, Internacional, fui perdendo a conta, me perdendo no meio dos gritos, me deixando levar por cada uma das massas vibrantes que me era mostrada, como se fosse real, como se estivesse pulando no chão logo acima de mim, empurrando o time em algum jogo que estivesse acontecendo naquele exato momento. Vídeos, claro. Vídeos projetados na diversas telas espalhadas pelos pilares de sustentação do Pacaembu. Porém, mais real só estando lá. Nota mental: ir a um jogo, qualquer jogo, assim que surgir a oportunidade. Ficar do lado da torcida mais barulhenta, não importa qual seja. Alguém sabe quando é Brasiliense x Gama?

Nesse ponto percebi que a hora corria apressada e tive que abreviar minha passagem pelas outras salas devido ao horário combinado com o taxista (Leandro, são-paulino, portanto confiável). Eu estava há uma hora e meia no museu e não havia percorrido metade do que havia para ver. Corri por fotos, vídeos, painéis, li placas e textos rapidamente, vi pedaços de vídeos. Não vou descrever nada das salas subsequentes pois seria injusto com elas. Mas acredite: são também mágicas. Detive-me apenas em três momentos: na plataforma com vista para a Praça Charles Miller, em frente ao estádio, no pedaço de arquibancada a que se tem acesso duranta a visita e no Corredor do Silêncio (nome dado por mim), trecho com isolamento acústico impecável em que pude ver aquilo que havia ouvido mais atrás: Ghiggia. A corrida. O chute. A poeirinha branca. A bola rolando. Barbosa e a trave. O gol. De novo aquela sensação de afundamento do estômago. Eu sei que já somos penta, que tudo isso foi há cinquenta e oito anos. Mas está lá. Sempre estará lá. E agora eu sei exatamente como foi. Não apenas os fatos, mas o espírito. A felicidade breve. A decepção. Ah, 1950...

Já dentro do táxi, olhei para trás e admirei as belas colunas do Pacaembu mais uma vez. Não poderia voltar no sábado, já que o museu não abre em dia de jogo. Fica para uma próxima. Reservarei um dia inteiro. Almoçarei no estádio. Tenho que voltar. O passeio não pode ficar incompleto. Vamos dizer que esta foi apenas a primeira perna do confronto, o jogo de ida. Agora é recobrar as forças para o jogo de volta. E não duvide: vou forçar prorrogação.

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É de pequenino...

09/01/2009 20:45

 

Todos os holofotes do futebol brasileiro do Brasil (expressão proposital, algum dia explico) estão presentemente voltados para a Copa São Paulo, picadeiro onde os aspirantes a boleiros podem exibir seus dotes ludopédicos para empresários, clubes, comentaristas e torcedores (nesta ordem). Alguns nomes já chegaram para a competição com pinta de craques, como é o caso do são-paulino Oscar e do santista Neymar, por exemplo, dois molecotes já conhecidos de quem acompanha os noticiários esportivos. Porém, um rosto que não veremos pintando e bordando pelos campos paulistas é o de Philippe Coutinho, sensação do Vasco que, no alto de seus 16 anos, foi chamado para fazer pré-temporada com a equipe profissional. Ele pulou o vestibular e entrou por cotas, digamos assim.

Cotas para sósias do Felipe Dylon

O jovem, repare, já está de passagem no bolso e compromisso marcado com a Internazionale, para onde irá em 2010, tão logo complete 18 primaveras. Mas o técnico Dorival Júnior quer observar o rapaz, e o rapaz quer mostrar serviço na Colina enquanto é tempo. Ajudar o time a subir de volta para a Série A é um objetivo, diz ele. Não creio que será tão aproveitado como imagina, afinal de contas a situação do Vasco é delicada e pede um time bem experiente. Pode até ser que o “Cara de Pizza” (apelido do garoto) tenha lá suas chances, talvez em jogos mais desimportantes do estadual ou mesmo entrando em segundos tempos por aí, mas isso não será regra. E não deve botar na cabeça que será peça-chave para a redenção da Cruz de Malta, afinal nem Pelé foi tão precoce.

 

 

Hipóteses à parte, o caso de Philippe Coutinho me lembra a história de Freddy Adu. Nascido em Gana, mas criado nos Estados Unidos, Adu é um meia-atacante que hoje defende o Monaco, da França, emprestado pelo Benfica, onde esquentava o banco. Apesar do momento apagado, sua trajetória é bastante notável.

O gajo

Para começar, ele não tem nem 20 anos ainda. Nasceu em 1989, na cidade de Tema, e desde a mais tenra idade já batia bola pela vizinhança. Mudou-se para a terra do Tio Sam quando sua mãe ganhou, numa loteria, um Green Card, espécie de documento que assegura ao estrangeiro permanência nos EUA com os mesmos direitos do cidadão americano. Na escola, Adu pulou duas séries para poder jogar no time de “sóquer”. Destacou-se num torneio e a partir daí foi galgando degraus, até chegar na MLS, a Major League Sóquer, divisão de elite do futebol por lá.

 

Adu foi contratado pelo DC United, de Washington, em 2004. A bem da verdade, quem primeiro chamou o menino para conversar foi o Dallas Burn, do Texas, mas a liga achou que seria melhor ele jogar em um time mais perto do estado de Maryland, onde morava, e convenceu o Dallas a desistir do negócio (em troca de uma compensaçãozinha, claro). Então, com 14 anos, em abril de 2004, ao estrear contra o San Jose Earthquakes, Freddy Adu virou o jogador de sóquer mais jovem da história a pisar no capim da MLS. E marcou seu primeiro gol na mesma temporada, contra o New York MetroStars (hoje Red Bull New York), tornando-se também o mais imberbe moço a registrar um tento nas súmulas da liga.

Freddy Adu diz: "Meninos bons como eu só tomam sopa Campbells!"

Depois do DC, Adu transferiu-se para o Real Salt Lake, onde ficou por poucos meses antes de embarcar para Portugal, vendido ao Benfica por 2 milhões de dólares. Teve passagens de sucesso pelas seleções de base dos Estados Unidos, sempre pulando etapas: com 13 anos, jogava na Sub-17. Com 15, na Sub-20. Com 18, na Sub-23. Estreou no combinado principal em 2006, num amistoso contra o Canadá (só lembrando: 16 anos). Anotou seu primeiro gol internacional no ano passado, contra a Guatemala, em partida válida pelas Eliminatórias da Copa de 2010. Antes disso, havia participado das Olimpíadas de Pequim, mas não evitou que os ianques ficassem na primeira fase.

 

Freddy Adu, claro, foi um caso à parte num país pouco habituado a craques com a bola redonda. No Brasil é mais comum vermos adolescentes talentosos fazendo estripolias futebolísticas. Assim como é muito comum perdermos esses adolescentes ainda muito novos, como será o caso de Philippe Coutinho. Se ele tem mesmo toda essa virtuosidade, não sei, nunca o vi jogar. Mas, se tiver, vamos aproveitar pra ver enquanto dá. Porque depois, só pela TV a cabo.

"ABC/ABC/Toda criança tem que ler e escrever..."

 

 

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