Bolívia 6x1 Argentina

01/04/2009 19:31

Eu sempre agradecia pelo fato de não ser vivo em 58 pra ter visto o 6x1 pra Tchecoslováquia. Também me considerava sortudo por ainda não ter cabeça feita em 93 pra sofrer pelo baile colombiano 5x0 em Nuñez. Mas meu dia de ver o desastre ao vivo chegou hoje. Não que a Argentina fosse favorita em La Paz, longe disso. Porém a disparidade técnica entre as duas seleções não permitia imaginar esse momento nem mesmo ao sonhador boliviano mais fervoroso, apesar do resultado ter sido justo.

Tanto que nos primeiros minutos a pressão boliviana já se fazia presente. Chutes de longa distância, sim, porém desafiadores ao arqueiro Carrizo, que naquele momento fez coçar a cabeça do técnico da Lazio por não utilizá-lo de titular. Eis que a zaga argentina, até então invicta, relembrou os tempos em que era comandada pelo Coco Basile com suas falhas de saída de bola e de marcação. Prato cheio para um artilheiro como Marcelo Moreno: 1x0 Bolívia.

As respostas ofensivas da albiceleste após o gol ilusionaram sobre uma possível reação, sendo que a ilusão ficou ainda mais forte após o gol de Lucho González no frango do goleirão Arias. Mas por apostar demasiadamente na velocidade numa cidade altamente inapropriada para tal, o time inteiro cansou até parar. Foi nesse momento que Carrizo retribuiu o favor/frango de seu colega boliviano, e na continuação da jogada, um irreconhecível Zanetti erra no domínio da bola e ao tentar recuperá-la faz penalti. Nos pés de Botero começava o pesadelo: 2x1.

Outra vez os bolivianos tiveram sinal verde para impor seu ritmo de jogo e marcação. Ainda no primeiro tempo o brasileiro Da Rosa marca mais um num fulminante contra-ataque. Dessa vez a culpa recai sobre a complacência de Papa e Heinze. E se havia a esperança de virada, talvez confiando no talento de Messi e Tevez, duas coisas foram determinantes para a desilusão total: o 4° gol boliviano, 2° de Botero na partida; e o fato de que os atacantes argentinos pouco viram a cor da bola no segundo tempo.

Dali em diante foi questão de aceitar o olé dos hinchas locais e observar a história sendo escrita na capital aonde os aviões sobem para aterrissar. Di Maria expulso depois de 7 minutos em campo. O 3° gol de Botero diante de destroços aonde deveria estar a defesa argentina. Outra falha de Carrizo no tento de Torrico. Tudo acontecendo numa naturalidade assombrosa. Diante disso, o apito final de Martin Vasquez carregava um misto de alivio e revolta a 35 milhões de hinchas já tristes pela morte recente do saudoso ex-presidente Raul Alfonsin.

Antes de mais nada parabens aos anfitriões. 6x1 nenhum se obtem sem méritos, especialmente esse em que os bolivianos foram genialmente eficazes. Foram tão intensos quanto os equatorianos contra o Brasil, com a diferença decisiva de contarem com um ataque de dois artilheiros, um deles (Botero) o líder de gols no torneio.

Mas fica impossível de qualquer argentino aceitar o que viu. Os mesmos erros de zaga da gestão anterior se somando aos erros não-corrigidos da era Maradona. Diante do primeiro desafio real é que ficou flagrante o vazio de criação que enfrenta o meio-campo da Argentina, afinal não a toa Messi foi discreto, não recebia as bolas de forma adequada a altitude. E falando nela, até influiu no resultado sim, mas não de forma que isente a albiceleste. Foram punidos por acharem que o mesmo estilo de jogo feito ao nível do mar contra a fraca Venezuela poderia servir.

Apesar do imenso pesar, um pouco de esperança nasce das cinzas. Se antes as vitórias maquiavam os erros, agora eles nunca foram tão claros para que, enfim, sejam consertados. Resta saber se Dieguito terá a mesma visão pra isso que tinha na época de jogador, quando também foi responsável por apagar o fogo pós-Colombia. Até lá, que todos se acostumem, pois apesar do 1° de abril, o que vimos hoje foi a pura realidade.

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