De que malandragem estamos falando?

27/09/2009 15:37

A maior polêmica recente do esporte mundial foi, sem dúvida, a descoberta do estratagema de Nelsinho Piquet, Flavio Briatore e Pat Symonds na Fórmula 1, que culminou no julgamento da última segunda-feira. Um caso abjeto de sabotagem de um evento esportivo, o que contraria todo o espírito daquilo que os envolvidos praticam (praticavam, no caso de Briatore). O esporte, na sua concepção fundamental, não é meramente uma competição. É uma atividade nobre do ser humano, que envolve todo um conjunto de regras implícitas e códigos de honra. Os profissionais da Renault estraçalharam cada um desses princípios ao fazer o que fizeram. Definitivamente, uma vergonha.

O futebol, como se sabe, nasceu como um esporte de cavalheiros: sofisticado, elegante, ético (o efeito colateral era ser elitista, mas isso não vem ao caso para os propósitos deste texto). Ainda é encarado como tal em sua terra de origem, a Inglaterra. Cada povo, porém, adaptou o jogo à sua cultura. Esse é um aspecto maravilhoso do futebol: reflete e incorpora as diferentes sociedades e suas idiossincrasias. No Brasil, é comum ouvir falar do futebol como uma expressão de malandragem, de ginga, de engambelação. Sempre, claro, no bom sentido. O drible e a finta de corpo são as manifestações desses conceitos dentro do jogo.

Mas e quando, em vez de enganar USANDO o jogo, os praticantes preferem enganar O PRÓPRIO jogo? É uma distinção que alguns, por desfaçatez ou ignorância, não fazem. Consideram ser estritamente a mesma coisa. Nessas situações, caímos novamente na história da Renault: uma destruição da alma do esporte. Foi o que aconteceu, por exemplo, na partida entre Ceará e Paraná, no domingo passado, pela 25ª rodada da Série B. O atacante paranista Wellington Silva, sem um milímetro de vergonha na cara, enfiou a mão na bola após um cruzamento para dar a vitória ao tricolor de Curitiba. Uma irregularidade escandalosa, cometida por um futebolista que não preza pela integridade do futebol.

Não é só no Brasil, óbvio. Uma das notícias mais impressionantes da semana foi a descoberta de que o goleiro dinamarquês Kim Christensen, do Göteborg, tinha por hábito mover os postes das balizas que defendia para encolhê-las. Ele, santinho, admitiu na hora. O Göteborg, coincidentemente ou não, é líder do campeonato sueco pelo saldo de gols. Trata-se também de uma clara violação aos princípios morais sob os quais se baseia o futebol. Os companheiros de Christensen não só disseram que sabiam das traquinagens de seu arqueiro como também eram adeptos da prática, só que de modo inverso: alargavam os gols adversários. O caso todo foi tratado como uma grande pândega, um caso curioso do futebol mundial. Eu vejo diferente. Vejo como sabotagem ao esporte, pura e simplesmente.

A atitude de Wellington Silva também foi levada na brincadeira. Em reportagens no dia seguinte à partida, colegas de clube do jogador tentavam amenizar o caso, mas dividiam umas boas risadas com os repórteres. Montagens pipocaram na internet, colocando o atacante e seu braço erguido nas mais diversas e cômicas situações. Não tenho absolutamente nada contra o bom humor, mas ele não pode deixar que vejamos o caso como o que ele realmente é: covardia. Trapaça. Wellington deve ter se achado muito esperto, muito “safo”. Afinal, deu a vitória a seu time, e só o que importa é a vitória, certo? Não para mim.

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