Futebol engravatado - Extra

19/03/2009 21:00

O Na Trave promete e sempre cumpre. Voltamos a falar hoje do Soccerex e as entrevistas que fizemos com dois craques da bola que viraram cartolas: Paulo Rink, ex-seleção alemã, e Oswaldo Ardiles, campeão do mundial de 78 com a Argentina.

Mas antes, a pedidos, especificarei mais sobre a palestra dos dirigentes que representaram dois grandes clubes europeus de sucesso. Jeff Slack pela Internazionale e Esteve Calzada pelo Barcelona.

Dois dos grandes orgulhos recentes do maior time da Catalunha foram o grande ressurgimento do time em 2003 e seu crescimento no sentido de time global, principalmente após o titulo da Champions em 2006. Exatamente sobre isso foi a palestra do Calzada: como o Barcelona foi capaz de gerir as os dois fatos.

Após o último caneco levantado do Espanhol em 99, nenhuma peça nova decorou a sala de troféus do time espanhol. Isso em si já causa mal-estar do clube para com seus aficionados. Só que conseguia ser pior, pois a cada ano que passava novos jogadores ainda mais caros eram chamados sem que resolvessem o problema mas levando uma grana alta. E perder dinheiro não era um luxo que um time comprometido a não levar o nome de ninguem na camisa podia ter. Mas patrocínios em outros lugares eram altamente bem-víndos, de maneira que esse foi o primeiro passo dado: sair do escritório para apresentar a marca Barcelona ao mundo. Afinal apostar que vão querer te patrocinar só pela sua história (como muitos clubes brasileiros pensam também) não basta.

Mudanças dentro do relvado também eram necessárias, e para tanto duas opções foram apresentadas. Ou o Barça buscaria a evolução por meio de medidas graduais, ou iria pela revolução total. A escolha ficou evidente, até pelo nome do projeto que citei acima. Eles venderam todos os "medalhões" e buscaram jogadores mais jovens porém com futuro promissor, caso de Ronaldinho Gaucho. Basicamente o que Abramovich pensa em fazer com seu Chelsea ao final dessa temporada, mas com um algo a mais decisivo, já que a mudança tambem se estendeu ao staff do clube. Dirigentes com mentalidades "industriais" foram chamados, pois a situação exigia que o conhecimento da diretoria fosse além do futebol nu e cru.

Os resultados foram os melhores possíveis. Afinal, quem não quer um clube mais forte pagando exponencialmente menos? Só que um "momentum" de um time campeão de tudo (menos o mundial) não podia ser desperdiçado, seria contra as leis da indústria boleira. Com a matéria-prima perfeita, lá se foi o Barça buscar a globalização de sua marca, que já era global em tradição mas não tanto mercadologicamente falando. Graças ao futebol em campo, o Barcelona tinha a imagem para ser aproveitada pela mídia. Como consequência vieram as fontes monetárias mais generosas, tais como a venda das camisas, direitos de transmissão (cujos números não foram divulgados), aproveitamento com sócios e frequentadores do Camp Nou, direito de imagem além, claro, da expansão para o mercado asiático. Outro fator que ajudou muito apesar de não render nada diretamente foi o inédito patrocínio da camisa azul e grená. A Unicef oferece ao clube a chance de mostrar que se importa com o aspecto social, o que além de ser moralmente correto traz boa fama, e a fama traz tudo o que já mencionei e que deixou o Barça tão bem nos dias de hoje.

Quanto ao ex-CEO da Inter, apresentou menos que seu antecessor porém mostrou tópicos importantes que fizeram pensar os dirigentes presentes ao auditório. A mais importante delas foi em relação aos direitos televisivos dos jogos. É melhor vendê-los ou o clube mesmo deve cuidar disso? E exatamente por serem "independentes" que os grandes italianos faturam tão alto como os ingleses, mesmo não tendo a mesma média espetacular de público nos estádios.

Aliás esse será um ponto importante a ser explorado no futuro, pois em 2010 a TV italiana pretende pagar coletivamente. Será um choque no começo, pois clubes como a própria Inter que chegavam a receber mais de 100 milhões de euros em 2004 passarão a "míseros" 70 milhões. Porém com esse dinheiro indo pra times menores, a liga tende a se fortalecer, aumentando o interesse do público pelos jogos. Somando isso a um investimento maior no conforto do torcedor nos estádios (essa menção foi um claro cutucão nos brasileiros para aproveitarem as melhoras da Copa 2014), a média tende a subir levando com ela a renda dos times na velha bota.

Essa busca de melhorias na liga nacional já era algo que funcionava bem para a NBA e a NFL. Será que esse não seria mais um bom exemplo a ser trazido para terras verde-amarelas?

Um aprendizado valioso. Sobre isso conversamos com Paulo Rink, afinal a fama dos cartolas daqui não é das melhores, então seria a Soccerex um primeiro passo rumo a melhoras?

"Acho que o país está mudando nesse aspecto que você citou de não ter organização. Em 2009 pra Copa 2014 estamos nos organizando pra, da melhor maneira possível, apresentar o cartão de visita do Brasil, que vai ser a Copa do Mundo. Com todos os benefícios que vem atrás, ou seja, infra-estrutura melhor. Esperamos que a mudança aconteça em todas as cidades do Brasil, principalmente as sedes. Que elas se movimentem em prol da melhor organização e dos benefícios para o país. Na Alemanha foi assim, já que com a estrutura deixada pela Copa 2006 eles puderão deixar o futebol alemão ainda mais forte. Tenho certeza que o Brasil já tem o talento. Aprendendo agora na organização estaremos no caminho certo." disse o diretor de assuntos internacionais do Atlético-PR e ex-craque da seleção alemã na Euro 2000.

Mas afinal todo esse fórum falava de futebol, não? Então sobre isso indagamos Oswaldo Ardiles. Com sua experiência na seleção, ele poderia nos orientar muito bem sobre um assunto polêmico: Maradona na seleção. Apesar da experiencia desastrosa que teve no Racing na década passada, poderia ele conduzir a alviceleste ao título em 2010?

"Creio que temos o melhor plantel do mundo junto com Brasil e Espanha. Isso sem dúvida nos credencia pra ganhar o mundial. Mas com Basile de técnico a equipe não encantava. Não perdia, mas tampouco ganhava. Foi um momento, digamos de irrelevância na Argentina. Por isso te digo, Maradona pode ser a inspiração que necessitávamos pra não só nos classificarmos mas também ganhar a Copa do Mundo."

Fecho nossa experiência engomada com o Soccerex com outra frase valiosa. Essa de um arquiteto inglês que foi questionado sobre como resolveram a questão dos hooligans na terra da rainha. Uma fala que marca, pois o Brasil precisa se portar da mesma forma em 2014.

"Se tratarmos os torcedores como animais, com cercados, fossos e truculência policial, eles se comportarão como animais. Agora se dermos conforto a eles, dentro e fora do estádio, eles se comportarão bem, e no caso de jogos dos clubes, irão sempre querer voltar."

Comentários

Voltar