Quebrando tabus

14/09/2009 22:39

Se esqueça do futebol por um momento. Nada no esporte bretão passa a importar num dia em que raquete e bolinha trouxeram uma emoção exponencialmente maior e mais duradoura. Como descrever um gigante do tênis em todos os aspectos? Como não chorar junto do homem que, do 3º andar, castigou um adversário igualmente grande? Como não sentir orgulho de um heroísmo antes inimaginável?

Durante uma sequência de 40 jogos, o melhor tenista do mundo não chegou nem perto da derrota jogando em Flushing Meadows, Nova York. Há 5 anos atrás, um jogador vindo da Argentina ganhou o último Grand Slam, na França. Numa seca ainda mais longa, de 32 anos, o lendário Guillermo Villas tinha sido o último a triunfar no US Open. Foi quebrando todas estas marcas notáveis que Juan Martin Del Potro se sagrou campeão sobre Roger Federer.

Numa partida emocionante e demorada (4h06), o argentino de apenas 20 anos venceu o suíço pela primeira vez na carreira. O placar foi de 3/6, 7/6(7-5), 4/6, 7/6(7-4) e 6/2. Era a chance do maior campeão de Grand Slams de todos os tempos conseguir o sexto título consecutivo do US Open. No entanto, por estar numa tarde/noite irreconhecível, acabou caindo diante de um rival extremamente motivado.

Uma determinação que, no começo da grande final, ainda não era páreo para o tênis refinado de Federer. Del Potro sabia desde o início: o caminho da vitória estaria em encaixar seu primeiro saque com força aliada a altura de 1,98m. Contudo, logo no segundo game da partida, o suíço quebrou o saque do argentino, conseguindo uma vantagem valiosíssima. Uma que ele levou até o fim do set, quando o fechou com dois aces, e dominando nos winners (14 a 8).

O segundo set parecia rumar na mesma direção. Vários erros de 1º saque de Del Potro que renderam outra quebra no início da disputa. O número 1 do mundo tinha o controle. Seus slices e voleios na rede difilcultavam muito a vida do adversário. E até o 10º game, o 2 x 0 no placar geral parecia inevitável. Foi quando a vontade sobrepujou a classe, e o argentino devolveu a quebra, levando tudo para o tie-break também vencido por ele.

Um equilíbrio no placar que se refletiu na disputa do terceiro set. Ambos estavam valorizando seus serviços com saques mais precisos. Porém, com menos qualidade no saque, Federer acabou vacilando e perdendo o sétimo game. Felizmente para o suíço, ‘Delpo’ começou a cometer erros não-forçados, e no game seguinte devolveu a quebra. O número de falhas foi igual (9 a 9), mas o argentino errou quando não podia, numa dupla falta que lhe custou o set.

Seria um momento compreensível para ele se abalar emocionalmente. Só que Del Potro não se permitiu esse luxo. Pelo contrário, pois forçou erros de Federer com fortes cruzadas de direita, rendendo a quebra de serviço no quinto game. Seu aproveitamento de primeiro saque melhora muito (74%), mas volta a errar quando nas horas impróprias, dando a chance para o suíço levar tudo para outro tie-break. Todavia, por conta de uma dupla falta logo no primeiro ponto, Del Potro leva a melhor de novo.

Veio então o quinto e último set. Com ele, a surpresa de ver o número 6 do mundo aproveitar um break point logo no segundo game, tal qual fez o suíço no começo de tudo. A partir daí, foi questão de manter a regularidade no saque para fazer o que antes parecia impensável. Del Potro estava mesmo vencendo um dos melhores atletas de todos os tempos em sua terra preferida, trazendo o orgulho que faltava ao carente esporte argentino.

Parabens a aquele que veio de Tandil para o mundo! Dale Juan Martin Del Potro!

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