Vida após Cristiano Ronaldo

13/08/2009 00:13

O Campeonato Inglês começara neste final de semana sob olhares atravessados por ter perdido sua estrela maior. Os dribles desconcertantes e gols belíssimos de Cristiano Ronaldo já não farão mais parte do cenário da bola na terra da rainha. Entretanto, a liga mais rica do mundo, e que nas últimas três edições da Uefa Champions League conseguiu emplacar sempre três representantes da Inglaterra na fase semifinal, chega forte para provar ao mundo que não depende do astro português para ter jogos sensacionais.

Um dos indícios disto esta no dinheiro que as redes de TV desembolsam para contar com as partidas da Premier League em suas programações. Em junho deste ano, os contratos de transmissão para o triênio 2009/10 até 2011/12 foram vendidos por 2,25 bilhões de reais por temporada. Em comparação com valores brasileiros, a quantia se torna cinco vezes superior a recebida ao todo pelos clubes daqui.

Outro número astronômico parte das arquibancadas. O preço dos ingressos para o torcedor do Liverpool custa entre 102 e 128 reais. E contando todos as despesas, o fã de 'football' inglês gasta cerca de 320 reais por jogo, e paga feliz pois os estádios sempre estão cheios. Apenas uma ilustração monetária da grandeza deste campeonato, onde as equipes também tentarão provar, em campo, que valem o quanto gastam para vê-las.

Aliás, o principal interessado em provar que está vivo após a venda de C.Ronaldo é o atual tricampeão, Manchester United. Os Red Devils perderam, além do português, o argentino Carlos Tevez para os rivais do City. Desfalques deste calibre poderiam significar a ruína para muitos clubes do mundo, mas não para este comandado por Sir Alex Ferguson.

Por mais que o escocês tenha trazido o promissor Antônio Valência para a posição de Ronaldo, o esquema tático da equipe deverá mudar do 4-2-3-1 para o 4-4-2, o que fará com que o time conte mais ainda com o ídolo inglês, Wayne Rooney. Como a solidez defensiva se manterá com a dupla Ferdinand-Vidic e com o volante Michael Carrick, as vitórias dependerão muito do talento de Rooney e de seu companheiro de ataque, Dimitar Berbatov.

Contudo, para que a bola chegue com qualidade até eles, alguns jogadores que falam português também terão que fazer seu melhor. Nas laterais, os gêmeos Rafael e Fábio (embora disputando posições com O'Shea e Evra). No meio, o ex-Grêmio Anderson e o gajo Nani. Quanto a essa realidade, alguns podem ser otimistas ou não. Fato é que nem os mais malucos nas casas de apostas em Londres seriam capazes de arriscar contra a força do United.

Mas, verdade seja dita. Os olhos dos apostadores se voltaram para um novo favorito: o Liverpool. Embalados pelo bordão de sua torcida entoando sempre que "You'll Never Walk Alone" (traduzindo, vocês nunca estarão sozinhos) e na vontade de quebrar um jejum de quase 20 anos sem ganhar a Premier League, os Reds da terra dos Beatles se veêm agora com a maior responsabilidade dentre os grandes ingleses.

E a janela tratou de tornar esta tarefa ainda mais árdua, pois Xabi Alonso cedeu as pressões merengues e se mandou para o Real Madrid. O espanhol era homem de confiança do técnico Rafa Benítez e era quase que a espinha dorsal do melhor meio-campo da Inglaterra na temporada passada. Para seu lugar, foi contratado o italiano Alberto Aquilani, também de grande qualidade, mas fácilmente suscetível a lesões.

Outros que sofreram muito destes infortúnios foram Steven Gerrard e Fernando Torres. A dupla de astros só conseguiu estar junta em 14 dos 38 jogos em 2008/09. Para este campeonato, a forma física dos dois será indispensável para o sonho do 19º título nacional. Um reforço para a zaga desfalcada de Sami Hyypia (foi para o Leverkusen-ALE), e outro para o ataque também não seria nada mal.

Saindo de Liverpool rumo a capital Londres, se encontra outro dos favoritos não só ao topo da Inglaterra, mas da Europa inteira. Imponente pelo fantástico fim de temporada que fez vem o Chelsea, com sua base mantida e bem reforçada. Para demonstrar isto em números, nos últimos 13 jogos dos Blues na Premier League em 2009, eles conquistaram 34 pontos.

Infelizmente, Guus Hiddink, o técnico que ajudou nesta arrancada, foi substituido. Em seu lugar, entra Carlo Ancelotti, ex-Milan. As desconfianças para com o italiano são tão fortes como as com Luis Felipe Scolari em 2008, pois como o brasileiro, ele dirige um clube inglês pela primeira vez na carreira. E, assim como no 'rossonero' que o mandou embora, o elenco não é lá dos mais jovens.

No entanto, é inegável que ele tem valor. Ancelotti deverá usar um 4-4-2 'diamante', assim como usava José Mourinho. Contará com Essien em forma, Lampard mais solto para criar, Drogba mais focado para golear e John Terry prometendo que fica no clube para proteger a zaga ao lado de Ricardo Carvalho. Isso sem desmerecer Yuri Zhirkov, não tão badalado quanto os outros mas de igual qualidade.

Ainda em Londres, um clube que vive realidade inversa a do Chelsea. O Arsenal conta com um indiscutível Arsène Wenger no comando, mas um elenco desacreditado pela crítica, ainda que com média de idade baixa. Para por ainda mais pressão na panela dos Gunners, são quatro anos sem levantar um troféuzinho sequer. Para quebrar este inconveniente tabu, o técnico francês busca inspiração em terras catalãs.

Na pré-temporada, Wenger tem escalado o time no esquema 4-3-3 similar ao do Barcelona, diferente do 4-5-1 anterior e do 4-4-2 que ele sempre foi adepto. Arriscar a mudança tática foi a saída pois o elenco possui bons atacantes em bom número: Robin van Persie, Nicklas Bendtner, Andrey Arshavin, Carlos Vela, Theo Walcott e o brasileiro Eduardo da Silva.

Curiosamente, dois jogadores que ajudariam nessa transição por suas características técnicas, Adebayor e Touré, foram vendidos ao Manchester City, embora o desempenho de ambos tenha sido pífio no torneio passado. Só que o jogador mais importante para que o meio-campo do Arsenal não perca sua essência está resistindo firme as tentações de transferência. Cesc Fabregas é o jogador que faz a torcida londrina seguir acreditando no bom rendimento dos Gunners para, ao menos, seguirem conseguindo vaga para a Champions League.

Afinal, a tranquilidade dos quatro grandes da Inglaterra da vaga quase certa na maior competição da Europa está em risco, pois o Manchester City promete se estabelecer nesta briga. Um clube que tinha aspirações muito mais modestas no fim da década passada, porém hoje já gasta como um gigante. Só neste verão europeu, 118 milhões de euros em reforços. Querendo os românticos do futebol ou não, esse dinheiro deve sim trazer felicidade.

Os futebolistas comprados são de primeira linha: Emmanuel Adebayor, Carlos Tevez, Kolo Toure, Roque Santa Cruz, Gareth Barry. E se juntam a outros também de valor, como Robinho, Wright-Phillips e Ireland. Contudo, tão obscuro quanto adivinhar a escalação na mente de Mark Hughes é prever como será a temporada destes reforços.

Muitos deles vieram de fracos rendimentos no último campeonato. Gareth Barry seria a exceção, pois brilhou no Aston Villa, mas agora sob maior pressão continua difícil saber o que sairá dos pés do meia. Ao menos o City terá uma boa vantagem em relação aos outros favoritos, já que não está em nenhuma copa européia, podendo manter seu foco total no torneio nacional.

Os outros 15 times, claro, não podem ser desprezados. Aston Villa, Tottenham, Fulham, Everton e West Ham devem duelar pelas vagas na Liga Europa (antiga Copa da Uefa). Blackburn, Wigan, Bolton, Stoke City e Sunderland correm por fora, enquanto Burnley, Hull City, Birmingham, Wolverhampton e Portsmouth fogem do fantasma da segunda divisão. Mas dos quatro grandes mais o Manchester City, ninguém se habilita a tentar tirar o favoritismo para a glória máxima no futebol da Inglaterra.

Voltar

Comentários

Nenhum comentário foi encontrado.