Basta o Bastos

06/03/2010 00:00

André Santos tem no currículo o triunfo recente na Copa das Confederações, em pleno solo africano. Kléber esteve fiel a Dunga durante a jornada nas Eliminatórias, e deu a volta olímpica na Copa América. Gilberto era titular naquela final contra a Argentina, e ainda carrega nas costas a experiência numa Copa do Mundo. Seria preciso força para vencer essa concorrência por uma vaga no Mundial. Pois nas últimas partidas, ela ganhou nome e sobrenome: Michel Bastos.

Não que o técnico mais supervisionado do Brasil tenha esquecido seus critérios. Estar bem no clube e ir bem na seleção ainda é importante para ele. Eis que Michel é vice-artilheiro do Lyon na temporada 09/10, e foi eficaz o suficiente para impressionar Dunga em apenas três jogos. Por isso, o Na Trave entrevistou o meia que, nos olhos da crítica, é o favorito para suprir a carência de um lateral-esquerdo na seleção canarinho.

Na Trave: Pelo Lyon, vem jogando como alternativa de ataque na ala esquerda. Entretanto, no Brasil, precisa voltar para marcar. Isto interferiu no seu rendimento, na sua opinião?

Michel Bastos: Não vou mentir. Depois que vim para a França, joguei mais como meia. Só que desde as categorias de base fui lateral-esquerdo. Uma posição que é minha, mas preciso de um tempo de adaptação. Gosto de jogar na lateral, mas por jogar avançado desde que cheguei ao Lille, a adaptação vem sendo complicada.

NT: Mas na seleção, Gilberto Silva e Felipe Melo poderiam cobrir os avanços para o ataque, não?

MB: Com certeza. Dentro de campo eles falam: “pode subir que a gente cobre”. No Lyon já não tenho essa liberdade de atacar ‘despreocupado’, pois os volantes lá ficam mais no meio. No clube não é a mesma coisa que é na seleção, e por isso confio: conseguirei me adaptar.

NT: Nesta adaptação, acredita que funcionará melhor ofensivamente, ou defensivamente?

MB: As pessoas cobram achando que preciso marcar melhor. Como meu ponto forte é o ataque, reconheço que preciso melhorar na marcação, e como lateral, o mais importante é defender. Só que os resultados são positivos até agora, sequer tomamos gol comigo de titular. É normal saírem jogadas do teu lado às vezes, mas só de estar bem posicionado já ajuda e, nesse aspecto, acho que fui bem.

NT: Ainda assim, suas melhores exibições foram no segundo tempo. Contra Inglaterra e Irlanda foi dessa maneira. O Dunga lhe passou confiança nos vestiários? Ou foi uma questão da postura do time nestas partidas?

MB: Quando se vai para a seleção, a primeira coisa a conquistar é a confiança. Precisei
jogar de forma mais simples no início. E a dificuldade se tornou maior por enfrentar jogadores rápidos e habilidosos como Robbie Keane e Wright-Phillps nas pontas. Tive que me concentrar muito no posicionamento. Quando acertei a marcação no segundo tempo, melhorei e pude avançar mais. Mas esse negócio da confiança em si mesmo vem aos poucos. Cheguei agora, sou novo, acho que não dá para pedir isso de começo, e é preciso ter calma. Mas estou satisfeito com o que fiz na seleção, e o Dunga concordou.

NT: Quanto ao treinador, o que ele te passou sobre seu desempenho até agora?

MB: Dunga nem conversou muito comigo. Os comentários que sei dele são os que ouço da imprensa. Mas nem precisa ele falar. Só a oportunidade de mais 90 minutos com a amarelinha já basta, e por isso agradeço a comissão técnica, pois não esperava isso. Hoje tenho a chance de ir pra Copa mesmo não estando nas Eliminatórias.

NT: E quanto a você? Confia nesta chance? O pessoal no Brasil lhe considera como favorito...

MB: Sinto que tenho grandes possibilidades. Mas não quero pensar que estou garantido. Só estarei lá se trabalhar bem no Lyon. Depende de mim, mas não quero botar na minha cabeça que já estou lá, pois nada está garantido. Porém, se conseguir, quero jogar, ser titular, e ajudar a seleção com o favoritismo que nos deram.

NT: Estar na Copa pode alavancar sua carreira. Pretende se mudar da França rumo a um gigante da Europa caso apareça a proposta?

MB: Penso em jogar nos grandes europeus sim. Mas graças a Deus, já estou no Lyon, jogando a Liga dos Campeões e disputando títulos. Lógico que gosto do futebol espanhol e do italiano, e se tiver a oportunidade de ir eu vou com prazer. Só que no momento estou muito feliz no Lyon.

NT: E depois que já estiver bem resolvido, volta para o Brasil?

MB: No momento, foi na Europa onde tive a chance de mostrar meu futebol. Não penso em voltar agora. Quero ficar no mínimo mais quatro anos aqui. E minha temporada desse ano foi melhor que a do ano passado pela questão da adaptação. A concorrência é diferente da que tinha do Lille, mas graças a Deus, sou vice-artilheiro do time. É o melhor momento da minha carreira.

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