Futebol engravatado

18/03/2009 19:47

Enquanto a atenção dos torcedores está na Libertadores, Copa do Brasil e Estaduais, os dirigentes se reuniam noutro encontro igualmente importante. Um forum de força mundial que esteve pela primeira vez em solo tupiniquim. O Soccerex foi a oportunidade perfeita para gestores de futebol do mundo todo apresentarem seus projetos, fecharem novos acordos e ampliar seus conhecimentos. Ou no caso dos cartolas daqui, aprenderem como de fato se administra um clube de futebol.

O que se viu no primeiro dia foi mera formalidade. Craques do passado num discurso que, literalmente, foi para ingles ver. Claro que o respeito é sempre indispensavel no que diz respeito as histórias de grandes heróis como Eusebio, Carlos Alberto Torres, Oswaldo Ardiles e o furacão Jairzinho, mas de certa forma era contramão daquilo que se esperava de um fórum de cartolas.

Veio então o segundo dia para tratar dos assuntos que interessava a todos. Exposições com projetos de algumas cidades-sedes da Copa 2010, de algumas candidatas a de 2014 e de empresas dispostas a partilhar o segredo do sucesso no futebol moderno.

Graças as palestras e as conversas informais pude aprender valiosas coisas novas, alem de confirmar algumas verdades. Algumas positivas e outras não.

Pela manhã, arquitetos e especialistas em estádios mostraram o sucesso de estádios construídos na Europa para eventos do tamanho que será a Copa no Brasil em 2014. Entre outras coisas, o que mais se enfatizou foi o legado deixado pelas construções às sedes, um dos atos falhos no Pan do Rio.

Pouco depois veio a palestra que mais valeu a pena: a dos representantes de Internazionale e Barcelona. O ex-CEO do time interista, Jeff Slack, apresentou números que impressionavam, além de dicas relevantes do seu método de trabalho que podem vir a ajudar os dirigentes brasileiros.  Ainda que seja dificil de imaginar uma união das equipes brasileiras no intuito de fazer crescer o campeonato nacional como no exemplo citado da NBA. Já o ex-dirigente do time catalão lembrou a grande revolução de 2003 que reergueu um clube que estava a 4 anos sem ganhar nem par ou impar. Corte de gastos desnecessários, contratação de dirigentes mais profissionais e de jogadores baratos porém promissores, como foi Ronaldinho Gaucho. Busca de resultados positivos dentro de campo que trouxeram a atenção da mídia, que por sua vez trouxe mais adeptos, clientes e frequentadores do Camp Nou. Uma fórmula tão simples quanto brilhante.

Mas então porque o Brasil não tem o mesmo sucesso dos clubes europeus sendo que tem um mercado ainda maior a ser explorado? Foi na hora do almoço que pude lembrar o porquê. Vi diante de meus olhos o presidente do Guarulhos oferecendo seu melhor jogador ao meu amigo Martin, filho do embaixador búlgaro. Era uma conversa informal com um cartola da quarta divisão paulista, não tem relevância pro futebol de elite. Mas era ali o espelho da mentalidade dos empresários brasileiros quanto ao futebol: ganhar dinheiro sem se importar com o resto.

Completando a cobertura do Na Trave sobre o Soccerex, amanhã teremos as entrevistas que fiz com Paulo Rink e El Maestro Ardiles. Por enquanto fiquem com a frase genial dita por Eusébio ontem, quando foi indagado sobre a copa de 66 e o gol da final que "nunca existiu".

"A Inglaterra organizou tão bem aquela copa do mundo que sequer deixou que ela saísse de lá"

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