Heroismo catalão em solo bretão

Quando a previsibilidade do futebol da a impressão de que prevalecerá. Quando o posicionamento defensivo já sentia o gosto de mais um triunfo sobre a ofensividade. Quando se sente que está tudo perdido. É nessa hora que surgem os heróis, e o de hoje chama-se Andres Iniesta. Com o coração na ponta da chuteira ele empatou tudo no Stamford Bridge, de maneira que o 1x1 leva o Barcelona para a final em Roma, ao passo que o Chelsea amarga um ano a mais na fila da Uefa Champions League.

E foi uma semifinal boa desde o inicio. Ambos os lados tinham seus argumentos para acreditar na classificação, o que demonstrava bem como era impossível apontar um favorito.

"Creo que mi Barça puede ganar. Tiene el mejor equipo y ademas tiene la ventaja de poder hacer goles como visitante". Era o motivo pro meu companheiro de universidade, Alejandro Zapata, acreditar no time da cidade onde nasceu.

"Se não fizeram nada no Camp Nou, por que fariam em Londres? Verdade que o Chelsea se defendeu muito, mas afinal retranca também não é futebol?", disse Bruno Alves, também meu amigo de UnB e torcedor azul mesmo sendo brasileiro.

Não foi retranca o que o Chelsea fez hoje, mas até parecia diante das ganas do Barça de marcar esse gol fora de casa que tanto vale.

De modo que os visitantes começaram a todo vapor. Tragicamente pra eles, veio a resposta de Michael Essien de forma rápida, efetiva e bela. Um golaço na sobra do chute de Lampard.

O gol não iria mudar a postura das duas equipes, todavia a confiança na mente dos jogadores em campo com certeza se alterou. O Chelsea tinha uma segurança muito maior pra executar seu forte esquema de marcação, enquanto que o Barcelona viu sua tarefa de vazar Petr Cech se tornar ainda mais dificil. Visivelmente eles sentiam a falta de Henry quando chegava a hora de tornar as boas chegadas de Iniesta e Xavi em chances de causar perigo.

E mesmo postado em sua "retranca", os comandados de Guus Hiddink ainda tiveram várias chances para abrir o 2x0. Dentre as 5 boas defesas executadas por Victor Valdes destaco uma com a perna que o espanhol fez após um contra-ataque veloz. Drogba havia limpado bem a marcação depois de receber a pelota de Anelka, mas não conseguiu finalizar como gostaria. Mal sabia ele que aquele momento iria ser muito precioso pro seu time alguns minutos mais tarde.

Alguns ainda reclamarão da arbitragem. Eu até dou razão, pois vi uns 3 pênaltis a favor dos locais que o fraco árbitro noruegues, cujo nome fico devendo, não marcou. Mas sigo minha política padrão: time que merece mesmo vencer o consegue até mesmo quando a arbitragem não ajuda.

Pois até o minuto 47 do segundo tempo essa minha máxima tinha toda a pinta de que se confirmaria para o Chelsea. Eis que chegou a hora em que a valentia catalã seria premiada. E de certa forma foi até irônica, pois a bola que chegou aos pés de Messi veio numa falha de Essien. O argentino passa pra Iniesta que chuta e faz a bola alcançar o angulo da felicidade ilimitada para Guardiola, seus jogadores e seus torcedores. 1x1, Barça na final contra o Manchester United em Roma.

Não direi que foi merecido usando o discurso pronto do time que atacou mais contra aquele que se defendeu demais, afinal o Barça não atacou tão bem assim. O único chute de 14 que conseguiu fazer seguir a direção das redes foi justamente o gol da classificação. E o Chelsea contou sim com ótimas atuações de Terry, Alex, Essien, Ashley Cole e Bosingwa na defesa, porém Malouda, Lampard, Anellka e Drogba causaram em seus contra-golpes muito mais perigo do que Messi e Eto'o num dia pouco inspirado. E olha que tiveram mais de 60% de posse de bola no jogo.

Mas digo que foi merecido pela entrega, pelo heroismo que citei acima. Time que não desiste é time que merece chegar aonde quiser. É essa raça que faz um time campeão num torneio mata-mata. Só que agora os ingleses no caminho do Barcelona tem uma defesa muito mais sólida e um ataque ainda mais assustador. Que o vencedor saia pela produtividade ou pelas ganas de vencer, não importa. Importa sim é que essa será uma final que promete entrar pra história.