Inversão de valores

11/10/2009 19:34

As rodadas de número 28 e 29 do Brasileirão jogaram nova luz sobre um fato que está inserido dentro de um grande problema. Seis times que disputam ferozmente posições no topo da tabela cederam jogadores fundamentais à Seleção Brasileira: Diego Souza pelo Palmeiras, Miranda pelo São Paulo, Diego Tardelli pelo Atlético-MG, Sandro pelo Internacional, Adriano pelo Flamengo e Victor pelo Grêmio. Por uma combinação de coincidências e consequências verdadeiras, cinco dessas equipes concluíram a 28ª jornada sem vitória (e o único triunfante, o Inter, venceu o Náutico em casa…). Até este momento da 29ª, quatro jogaram, dois perderam e um empatou (o único vencedor, o Flamengo, derrotou um dos perdedores, o São Paulo).

É claro que a ausência dos jogadores importantes faz uma diferença. No presente caso, não tanta quanto se propagandeia por aí, mas o suficiente para que se evidencie, mais uma vez, a ilogicidade de se agendar rodadas do campeonato mais importante do país na mesma época de jogos da seleção nacional. É claro que astros do torneio serão chamados para vestir a amarelinha e deixarão seus clubes na mão em momentos decisivos. No momento atual das eliminatórias, com o Brasil já classificado, é revoltante ser obrigado a ceder seus principal atleta para partidas de pouca importância das quais ele voltará cansado e com a cabeça um pouco fora do lugar. Mas a culpa não é da seleção brasileira ou de Dunga. A culpa é da CBF.

Dunga, na posição de técnico da seleção brasileira, tem o direito (o dever, melhor dizendo) de convocar quem ele entender que merece uma chance, quem estiver mostrando serviço e puder ser útil à Canarinho. Ao mesmo tempo, os clubes não podem sair prejudicados quando seus jogadores vão servir o selecionado. Uma convocação para a seleção brasileira deve ser boa para todos: para o convocado, para a seleção, para o clube e para os torcedores. A CBF, na posição de gestora e organizadora (risos) do futebol brasileiro, precisa garantir que esse equilíbrio se mantenha. Em um cenário de conflito de calendários, ninguém fica por cima.

A seleção brasileira não tem o mesmo prestígio que tinha há vinte anos, ou mesmo há dez anos. Cabe ao órgão máximo do futebol tupiniquim preservar a imagem da equipe nacional, fazer com que o torcedor sinta-se representado quando vê a camisa amarela entrando em campo. Colocar a seleção contra os clubes é a maneira exata de fazer tudo do jeito errado. Entre seu time do coração e a seleção brasileira, o torcedor sempre vai escolher o time. No Brasil é assim. Se a saída de um craque para uma disputa internacional prejudicar seu time, o torcedor não vai ficar contente. Isso cria um paradoxo insustentável, uma inversão de valores: no Brasil, os torcedores veem uma convocação para a seleção como uma coisa ruim.

Voltar