O Joquenpô do Futebol

01/04/2009 10:10

Joquenpô você sabe o que é. Nome aportuguesado do jan-ken-pon, é um joguinho japonês também conhecido como pedra-papel-ou-tesoura, muito útil como modo de distração nas aulas chatas quando o professor já passou a mão no seu baralho de truco. O jogo consiste em três gestos com a mão, cada um simbolizando um dos elementos. Os participantes mostram seus gestos simultaneamente e os elementos derrotam-se circularmente. Pedra "amassa" tesoura, tesoura "corta" papel, papel "embrulha" pedra. Deve ser uma metáfora oriental sobre o equilíbrio de todas as coisas no universo, ou talvez só invenção de dois samurais desocupados.

Aqueles familiarizados com That 70's Show conhecem a versão "Barata-pé humano-bomba atômica"

Vou expôr minha humilde teoria baseada no passatempo nipônico, que chamo de "Joquenpô do Futebol". Os elementos que relaciono na teoria são: o próprio futebol, como instituição, os clubes e os jogadores. A relação circular que faço entre eles é de importância. Veja se concorda.

1. Clube é maior que jogador

Todo torcedor já deve ter citado essa frase alguma vez na vida para se referir a um boleiro "mercenário" ou "chinelinho" que desgraçou o manto sagrado. "O Qualquer Coisa FC é maior do que esse perna-de-pau!", vociferam os revoltados. É fato que a história de um clube é construída por grandes jogadores, ídolos imortais e heróis consagrados por conquistas. Mas é igualmente fato que um clube não é apenas isso. A dimensão de um grande clube de futebol engloba o contexto de sua fundação, seus símbolos (hino, cores, uniforme, escudo, bandeira, mascote, etc), o lugar a que pertence, sua torcida e, claro, seus jogadores. Tudo isso é parte do que vemos como a "personalidade" do clube, aquele traço particular que faz com que as pessoas identifiquem-se com esta ou aquela agremiação. Cada clube tem uma cara, um jeitão. Isso não depende exclusivamente de indivíduos que vestiram a camisa. Depende também, é claro, mas é esses indivíduos são peças no quadro geral, não pedras fundamentais.

Além disso, sem os clubes aqueles grandes ídolos não teriam espaço para fazer suas histórias. Não digo que Garrincha teria sido agricultor em Pau Grande, ou que Pelé teria virado fotógrafo de pracinha em Três Corações. Mas seria diferente.

Reapresentação do elenco do Flamengo em um universo paralelo

2. Futebol é maior que clube

Nada muito complexo de explicar aqui também. Hoje vemos muitos clubes tradicionais em estado de penúria. O América-RJ é o melhor (no mau sentido) exemplo desse fenômeno. Entretanto, o Campeonato Carioca segue, firme e forte. Há um vazio? Há, é claro que sim. Uma coisa é o estadual com o Mequinha, outra coisa é sem. O Bahia está que é só o bagaço, já foi campeão nacional, tem uma das torcidas mais absurdamente fanáticas do país, mas perambula pela Segunda Divisão hoje. E o futebol anda, dá suas voltas. Não estou dizendo que não lamento pela situação dos ex-gigantes, mas é simples constatar que os domínios se renovam, algumas estrelas se apagam, outras nascem, mas o jogo continua. A bola rola. Enquanto houver uma pessoa com um objeto remotamente esférico nos pés, haverá futebol.

Não era bem disso que eu estava falando, mas você entende o ponto

3. Jogador é maior que futebol

Fechando o ciclo, vamos falar dos grandes craques. A terceria afirmação do Joquenpô do Futebol não se aplica, por exemplo, a Obina ou Jéci. Óbvio que não são todos os jogadores que se encaixam no raciocínio, mas pense comigo. Cada deus da bola que pisou, pisa e pisará nos capins para fazer seus truques dignifica o nobre esporte bretão e, mais do que isso, revoluciona-o. De Yashin a Casillas, de Beckenbauer a Baresi, de Puskas a Gerrard, de Didi a Cruyff, de Eusébio a Messi, todos os monstros das quatro linhas deixaram suas marcas e transformaram a maneira de jogar. O que quero dizer é que o futebol não seria tão brilhante se não fosse por esses astros que iluminaram os gramados por onde passaram, inventando modas e fazendo artes. Imagine uma partida, hoje, do jeito que era há cem anos. Rígida, feia, cheia de chutões e correria desordenada. Quem mudou tudo isso, quem criou o espetáculo do futebol, foram os craques.

E você, o que fez pelo futebol hoje?

E essa é a teoria do Joquenpô do Futebol.

OBS: Sempre que estiver escrito "jogador" no texto, entenda também "técnico". Não menosprezei o trabalho dos "pofexôres", apenas quis economizar espaço e simplificar conceitos.

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