Piquetgate

11/09/2009 23:40

O imbróglio entre os Piquets e a Renault já tem tantos desdobramentos que é muito difícil fazer qualquer comentário com o bonde andando. Mas um ponto, em especial, chamou minha atenção.

Há quem aproveite o episódio para comentar que Rubens Barrichello, em seus tempos de Ferrari, cedia aos desmandos da chefia da mesma forma como Nelsinho (diz que) cedeu a Flavio Briattore, ambos cumprindo ordens da equipe para beneficiar seus companheiros. Por um lado, sim, são atitudes iguais. Por outro, são completamente diferentes.

No esporte, qualquer atitude tomada fora do âmbito da competição e que influencie no resultado é prejudicial. Isso inclui o tal “jogo de equipe”. Tornou-se uma prática ilegal recentemente, mas seus méritos éticos já eram muito discutidos. Entregar a posição ao companheiro de equipe altera a pontuação do piloto mais bem colocado sem que ele tenha conquistado isso na pista. Como resultado, seus adversários diretos ficam em desvantagem e não podem fazer absolutamente nada a respeito. Era o que Rubinho e Schumacher faziam. Extremamente contestável. Neste ponto, os dois pilotos brasileiros são semelhantes.

No caso da Renault, porém, Nelsinho não apenas facilitou a vida de Alonso. Ele dificultou a vida de todos os outros colegas. A batida proposital é uma influência direta no andamento da corrida e no desempenho particular de cada piloto, enquanto a troca de posições age de forma mais indireta no campeonato. Além disso, há os riscos inerentes a um acidente com um carro de Fórmula 1, como destroços à solta. Por fim, outra diferença fundamental: a Ferrari operava seu jogo às claras. Todo mundo que assistisse a corrida tinha plena consciência do que estava acontecendo, e ninguém se preocupava em esconder. A Renault agiu na surdina, em uma operação que envolveu apenas dois integrantes da alta cúpula da equipe e o piloto brasileiro. Em termos diretos, a Renault sabotou a prova. A revelação, oportunista, só veio quando um conflito de interesses pessoais se instaurou.

Todos os envolvidos devem ser punidos. Nelsinho não pode escapar do castigo só porque trouxe tudo à tona, até pelos próprios motivos que teve para contar a verdade: não por arrependimento ou culpa, mas sim como retaliação. É só lembrar de Roberto Jefferson no caso do mensalão. Não sei quem bolou o plano, se foi Briattore, Symonds ou Piquet (tanto pai quanto filho). O que interessa é que todos estavam a par e levaram a situação até o fim. Portanto, que se faça o que é certo.

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