Tudo conforme o previsto...

06/09/2009 00:40

Ainda há algum adepto da teoria sobre futebol e lógica não se combinarem? Depois de hoje, duvido muito. Nem o caloroso alento da hinchada rosarina. Nem o fato de contar com o melhor jogador do mundo. Tampouco o equilíbrio da 'maior rivalidade do futebol' para incendiar a alma argentina. Nada disso chegou sequer perto de fazer diferença. E nem mesmo poderia, sabendo da competência e eficiencia desse Brasil que hoje está na Copa.

No começo do jogo, até o torcedor mais cético se ilusionou. Uma troca de passes linda, ao estilo toco y me voy, terminando na finalização de Tevez desviada para escanteio. Seria um dia iluminado dos armadores de jogada da albiceleste? Os minutos seguintes trataram de responder com um 'não' seco e triste.

"Ora, mas a Argentina tinha mais posse de bola", alguém poderá indagar. Contudo, o quão difícil pode ser isso sabendo que a marcação adversária está recuada, pronta para contragolpear? Nos primeiros 15 minutos, apenas um chute de Messi levou algum perigo para Júlio César. Enquanto o meio-campo montado por Maradona seguia inexpressivo, foi só questão de se aproveitar do jogo aéreo para o Brasil abrir o placar com Luisão. Na jogada prevista por críticos daqui, de lá, e por nós.

Nascendo de outra jogada de bola parada veio o segundo gol, nos pés do oportunista Luis Fabiano. E a situação passou de tensa para desastrosa. Com um posicionamento tático exemplar, os defensores brasileiros conseguiram anular a Argentina de forma ainda mais efetiva. Apenas a finalização a queima-roupa de Maxi após lançamento de Veron e um chute de Dátolo merecem destaque como lances de ataque argentinos.

Na etapa final, confiando mais no talento do que em qualquer outra coisa, El Diez coloca seu genro Aguero para jogar. A Argentina se tornou mais agressiva, porém as chances reais de gol ainda estavam distantes. Somente saíam chutes de longe e cruzamentos na área, apesar da clara desvantagem no jogo aéreo. Curiosamente, dessa falta de criatividade nasceu o golaço de Dátolo, mas não dava para esperar que os subordinados de Maradona conseguissem resultados como aquele o tempo inteiro.

E para tratar de esfriar os ânimos de uma reação desordenada, a famigerada vulnerabilidade a contra-ataques por parte da defesa albiceleste enfim apareceu. Do jeitinho que se esperava: Gilberto Silva roubando a bola, Kaká num passe genial e Luis Fabiano, com velocidade e poder de decisão, conferindo o gol do silêncio. Selando uma situação tão terrível a ponto de calar o Gigante de Arroyito antes entusiasmado.

Messi ainda tentou usar de sua genialidade. Milito adentrou a cancha para servir como a referência de área que Tevez não foi. A raça para buscar uma virada inacreditável existiu. No entanto, novamente a bela proteção da área feita pela defesa brasileira domou o ataque argentino. Nas raras vezes em que os anfitriões sobrepujavam essa solidez, Júlio César lá estava como melhor goleiro do mundo que é.

E ainda tem gente que diz que a zaga de Dunga não é uma das melhores do mundo... Vai entender...

Ao passo que a defesa argentina fez o que fez, já esperado por aqueles que a acompanham com regularidade. Para piorar, até Otamendi, zagueiro cobiçado por grandes clubes europeus, falhou. Nos três gols, aliás.

O setor de meio-campo também jogou como se previa. Vários erros de passe e falta de criatividade para armar jogadas aonde Messi e Tevez pudessem incomodar Júlio César de forma contundente. Não que o ataque possa se eximir de culpa nessa derrota. Sim, é covardia pedir que La Pulga jogue como no Barcelona. Só que mesmo com isso em mente, dá para dizer que ele foi pouco ousado.

Já o Brasil, só precisou mostrar a firmeza de seu esquema defensivo e a eficiencia de seus homens de frente para os rosarinos para levar a vitória. De forma quase que automática, metódica e simples. Cruelmente simples.

E aliás os torcedores de Rosário simplesmente viram a realidade lógica que a paixão para com seu país tratava de esconder. Realidade clara desde a posse de Maradona, e que se torna sombria com a visão do futuro. Pela frente um Paraguai igualmente competente no contragolpe, e num estádio sempre temido pelos argentinos: o Defensores del Chaco.

É impossível acreditar numa melhora da situação da defesa, deixando então a responsabilidade para que Maradona ache uma maneira de fazer o ataque se tornar mais incisivo e efetivo. Ele já se mostrou incapaz de aprender algo depois das derrotas. Entretanto, material humano para tal, Dieguito tem. E a esperança de que eles consigam o triunfo em Assunção é tudo que resta para a Argentina. Mesmo sabendo da improbabilidade disso.

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